Nasci de outras terras,
vermelhas como a cor do sol
da tarde
anunciando estiagem.
Foi longa e árida
a viagem.
Pés crestados
na terra partida,
ressequida
de húmus e de vida.
Porém, sobrevivi…
Nasci de outras águas,
fecundada fui
no encontro das ondas com os rochedos.
Por isso,
cresci sem medos,
mas parti os lábios
no sal e no sol.
Não pude sorrir,
porém, sobrevivi…
Surgi de outros ventos.
Fui gerada em tufões,
mas nasci do ventre da brisa.
Rodopiei em rodamoinhos
e fustiguei folhas, flores e frutos.
Provei sabores
doces e amargos…
Corri mundos e não pude parar.
Cansei,
mas sobrevivi…
Apareci assim,
de repente,
como salamandra entusiasmada.
Vesti-me de cor e calor,
lambi a casca da madeira seca
e enxuguei o tronco úmido de lágrimas.
Fogo incontrolado,
querendo alcançar o céu,
queimei e me consumi,
vendo meu pranto arder ao léu.
Mesmo assim,
sobrevivi…
Agora, sou como sou.
Estou reaprendendo a viver.
Adélia Maria Woellner, Infinito em mim
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