O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.
Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.
Adélia Prado, Poesia Reunida
2 Comentários
Jane Auxiliadora Assunção e Souza
29/07/2022 at 16:56Nossa correria diária impede que o amor seja real.
Nazaré de Jesus Silva Rosa
19/05/2023 at 14:24A gente faz muito confusão sobre o que é o amor