Ontem ao contemplá-la decotada,
Ao primor do seu colo descoberto,
Senti-me tonto, da vertigem perto,
Fremente o pulso, a vista deslumbrada.
E, como em láctea fonte perfumada,
Sorvi-lhe sonhos mil no seio aberto,
Com a sede de um filho do deserto
Que encontre enfim a linfa suspirada.
Giram em derredor das níveas flores,
Sofregamente, insetos zumbidores…
– Meus desejos então foram assim…
Mas arredei os olhos, de repente,
Pois meu olhar podia, de tão quente,
Crestar-lhe a fina cútis de cetim!
Afonso Celso, Amar, Verbo Atemporal
1 Comentário
Maria dos Anjos de Oliveira
02/04/2021 at 00:49Magnífico soneto, li e reli, Sou apaixonada pela Lya Luft, estava procurando o poema Ame. E encontrei esta primorosa página.