Algum amigo, talvez o único,
aconselhará o combate:
mude de amigo se não pode
mais, nunca mais, mudar de vida.
Da amada nem se fala, tudo
que ela deseja é para si:
mude de amada se não pode
mais, nunca mais, mudar de vida.
A poesia não é mais feita
de água, de colírio indulgente:
mude de verso se não pode
mais, nunca mais, mudar de vida.
Diante do nascente alugam-se
espaços claros e andorinhas:
mude de casa se não pode
mais, nunca mais, mudar de vida.
Uma terça parte dos anjos
já veste túnicas vermelhas:
mude de roupa se não pode
mais, nunca mais, mudar de vida.
Alberto da Cunha Melo, Poesia completa