O museu triste da rainha
Há um, dois, três anos já se abriu.
Bêbada e louca a turba ainda se apinha…
Ela espera no túmulo sombrio.
Jaz na sinistra caixa
De vidro, nem morta nem viva.
Sobre ela a multidão saliva
Palavras torpes em voz baixa.
Ela se estende preguiçosamente
No sono eterno a que se recolhera…
Lenta e suave, uma serpente
Morde o peito de cera.
Eu mesmo, fútil e perverso,
Com olheiras de anil,
Vim ver o lúgubre perfil
Na cera fria imerso.
Todos te contemplamos neste instante.
Se essa tumba não fosse uma mentira
Eu ouviria, outra vez, arrogante,
Teu lábio putrefato que suspira:
“Dai-me incenso. Esparzi-me flores.
Em eras anteriores
Fui rainha do Egito. Hoje sou só
Cera. Apodrecimento. Pó.”
“Rainha! O que há em ti que me fascina?
No Egito, como escravo, eu te adorei.
Agora a sorte me destina
A ser poeta e rei.
Da tua tumba não vês que já imperas
Na Rússia como em Roma? Não vês, mais,
Que eu e César, em séculos e eras,
Ante o destino seremos iguais?”
Emudeço. Contemplo. Ela não muda.
Só o peito pulsa, quase
Respirando entre a gaze,
E ouço uma fala muda:
“Outrora eu suscitei paixões e lutas.
O que suscito agora?
Um poeta bêbado que chora
E o riso bêbado das prostitutas.”
Aleksandr Blok, Poesia da recusa