Alice Sant’Anna – Desenhava tudo o que via
desenhava tudo o que via
com uma estranha compulsão
passava cinco, seis horas na frente
de um quadro, uma maçaneta, um pastel de nata
completamente absorto
sacava do bolso o lápis
corria para rabiscar, depois anotava
a data ao lado, a rua, nada
se perdia no caderno
enquanto isso eu aflita queria repetir
o gesto, documentar tudo, dizer do gosto
da canela no pastel de nata
do primeiro dia azul de lisboa
mas não escrevia e com pressa para registrar
me tornava burocrática
no diário: hoje fomos de trem, estava quente