O vizinho me olha da janela em frente.
Abro mais ainda as cortinas e vou pra dentro. Pra que ele veja com clareza a minha ausência.
Me escondo.
Fico no corredor. Parada. Encostada na parede. Inerte.
Os pés frios.
Basta uma virada de pescoço e já posso ver o vizinho de novo, mas agora já são 2 na janela me olhando.
Volto o rosto para o corredor. Não me mexo. Fico paralisada do pescoço pra baixo. Pareço estar nessa posição há anos.
Estou envelhecendo junto à infiltração na parede.
À minha volta, deve haver um campo minado. Basta um passo errado para que eu, a parede e os 2 que me vigiam explodam.
Olho de novo e agora são 3. 2 homens e 1 mulher na janela.
Me viro rápido pra que eles não me vejam, mas eles me veem mesmo assim.
Por que me olham?
Eu não pretendo nada.
Estou como quem ergue um castelo de baralho e o derruba depois de colocar a última carta.
Não tenho gestos, nem finalidade.
Ana Carolina, Ruído Branco