Ana Claudia Quintana Arantes – Improvável poema

Um poema é algo mutável
quando aparece, não existe,
mas já era antes.
Mas então, de repente,
não acontece.
Esconde-se sob uma esquina,
observa.
Insinuado numa outra voz,
disfarçado atrás de um olhar
ou até vindo
de um tempo sem lugar.
Um poema é vestido de silêncios,
mas sua pele nua
sugere a vida na morte.
Parece calar,
mas, entre as linhas, gritos e sussurros
suas sobrepostas letras soletram.
Um poema é mar, ondas vagas de tinta,
cheio de brancos.
Um poema é sal, de mar e de lágrimas.
Inspira e suspira leveza… ou tristeza.
Um poema pulsa nas mãos que vivem ou matam,
em mistérios comove-se
e perde suas palavras,
que nascem, fielmente livres,
para sempre.
Um poema é um sonho
de um artista inconfessável
intimamente calado,
ao menos em parte.
Um poema é apenas um milagre
pois até viver
parece impossível.

Ana Claudia Quintana Arantes, Mundo dentro: poesia de sobrevivência