Por exemplo
alguém traduziu um poema
e introduziu nele um vulcão
que não havia no original
por causa da métrica ou da necessidade
de uma rima
alguém acrescentou num poema um vulcão
que antes não existia
(ou uma mosca, uma raposa, ou foi uma cicatriz
que migrou da mão esquerda para a direita
como luvas vestidas errado
ou maio que se tornou setembro
pelo mero acaso das localizações geográficas
e porque para o poema era necessário
que fosse primavera
ou ameixas que foram trocadas
por lichias, porque ameixas por aqui
quase só são consumidas secas
e era preciso uma fruta
doce e fria).
É assim mais ou menos desse modo
acho
que as pessoas se relacionam
com as coisas
sempre.
Ana Martins Marques, Risque esta palavra