Não lembro quando foi a última vez em que respirei
corretamente, o ar entrando pelas narinas
e saindo pela boca, suave.
Ontem mesmo (é só um exemplo) tive de deixar
sobre a mesa a fruta partida e a faca suja,
o sumo melando o tampo, e respirar fundo
ou assim tentar, quebradamente:
é como tentar respirar noutro idioma ou
numa atmosfera alienígena que não compreende
quando digo (persigo) oxigênio.
Nesta rarefação interna e extremada, contínua,
mesmo o fogo (aquele de dentro) empalidece
e cala, se apaga,
dando lugar à verdadeira vida do espírito.
Não caibo em seu corpo, e nem é pela distância:
tentaria correr se meus pés ainda tocassem o chão.
André de Leones, Amar, Verbo Atemporal
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