Foi na lua nova que ele me abandonou,
o meu amigo querido. E daí?
Ele brincava: “Equilibrista,
como hás de viver até o mês de maio?”.
Respondi como a um irmão,
sem ciúmes, sem zangas;
mas, para mim, quatro casacos novos
não compensam pela sua perda.
Assustador é o meu caminho, e arriscado;
mais terrível ainda é a estrada da saudade…
Como é rubra a minha sombrinha chinesa,
e são branquinhas as solas de minhas chinelas.
A orquestra toca uma música bem alegre
e os meus lábios formam um sorriso.
Mas meu coração sabe, ah! o coração sabe
que o quinto camarote está vazio.
Anna Akhmátova, Antologia poética