Sob o ícone, o tapetinho gasto.
Está o quarto fresco na penumbra
e, espessa, a hera verde-escura
faz ondular a larga janela.
Das rosas se desprende o perfume,
crepita a lâmpada com um fraco brilho.
Salpicadas de cores, há caixinhas
que pintou a amorosa mão do artesão.
A cortina branqueia a janela…
Teu perfil é afilado e cruel.
Os dedos cobertos de beijos
escondes, esquivo, em teu lenço.
E o coração, mal começando a pulsar,
já está cheio agora de tristeza.
Em minhas tranças desarrumadas, ficou
um leve cheiro de fumaça de charuto.
Anna Akhmátova, Antologia poética