Sonho mais raramente com ele, graças a Deus,
já não imagino que o vejo em toda parte.
A névoa encobre a estrada embranquecida,
as sombras leves já fogem sobre a água.
O dia inteiro os sinos não pararam
de tocar sobre os campos bem arados.
Ainda mais altos são os do mosteiro
de São João que eu vejo lá longe.
No campo, vou colhendo as violetas
que ainda outro dia floresceram
e fico olhando aqueles dois monges
que passeiam pela antiga muralha.
Diante de meus olhos, que eram cegos,
ressurge concreto um mundo inteligível e familiar.
O Deus dos Céus cicatrizou minha alma
com a gélida calma da ausência do amor.
Anna Akhmátova, Antologia poética
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