Um dia, meu amor (e talvez cedo,
Que já sinto estalar-me o coração!),
Recordarás com dor e compaixão
As ternas juras que te fiz a medo…
Então, da casta alcova no segredo,
Da lamparina ao trêmulo clarão,
Ante ti surgirei, espectro vão,
Larva fugida ao sepulcral degredo…
E tu, meu anjo, ao ver-me, entre gemidos
E aflitos ais, estenderás os braços
Tentando segurar-te aos meus vestidos…
– “Ouve! espera!” – Mas eu, sem te escutar,
Fugirei, como um sonho, aos teus abraços
E como fumo sumir-me-ei no ar!
Antero de Quental, Cinco séculos de sonetos Portugueses