Depois que dia a dia, aos poucos desmaiando,
Se foi a nuvem d’ouro ideal que eu vira erguida;
Depois que vi descer, baixar no céu da vida
Cada estrela e fiquei nas trevas laborando:
Depois que sobre o peitro os braços apertando
Achei o vácuo só, e tive a luz sumida
Sem ver já onde olhar, e em todo vi perdida
A flor do meu jardim, que eu mais andei regando:
Retirei os meus pés da senda dos abrolhos,
Virei-me a outro céu, nem ergo já meus olhos
Senão à estrela ideal, que a luz d’amor contém…
Não temas pois — Oh vem! o céu é puro, e calma
E silenciosa a terra, e doce o mar, e a alma…
A alma! não a vês tu? mulher, mulher! oh vem!
Antero de Quental, Melhores poemas, Seleção de Benjamin Abdalla Junior