António Botto – Não. Beijemo-nos apenas
Não. Beijemo-nos, apenas,
Nesta agonia da tarde.
Guarda –
Para outro momento
Teu viril corpo trigueiro.
O meu desejo não arde
E a convivência contigo
Modificou-me – sou outro. . .
A névoa da noite cai.
Já mal distingo a cor fulva
Dos teus cabelos. – És lindo!
A morte
Devia ser
Uma vaga fantasia!
Dá-me o teu braço: – não ponhas
Esse desmaio na voz.
Sim, beijemo-nos, apenas!,
– Que mais precisamos nós?
António Botto, Canções e outros poemas