Antonio Carlos Secchin – Carta aos pais
Vem de um sonho distante
o que aqui celebro novamente:
o amor e seu motor incessante
que incendeia de luz toda a gente.
Catorze de janeiro sessenta vezes
ainda assim não é bastante:
tudo que parecia tão antigo
ressurge na força deste instante.
Sessenta vezes ser feliz inteiro,
por inteiro ser companheiro e amante.
Mil novecentos e quarenta e sete,
clara memória, afeto transbordante
que gerou Carlos, Antonio e Cristina,
ao abrigo do vento e da vida errante.
Regy e Sives, tanta alegria de ver
que vale viver, se viver intensamente
é ação recomeçada em cada dia,
para que cada dia se reinvente.
Nossa herança maior – os pais
que sabem nos chamar para o futuro,
pais que não são de antigamente,
pois o que eles fazem do passado
é trazê-lo sempre perto do presente.
Pais, queridos pais, sessenta anos
aqui se condensam diante de nós,
e, mesmo que nossa voz não cante
tanto quanto se presume,
que agora, então, se proclame
a conta incontornável
deste amor que número nenhum resume.
O tempo, que é velho e que é infante,
nesta hora entra na sala, lentamente.
Aproxima-se de Sives e Regy,
e vê que o par, de tão perfeito e tão constante,
já se tornou eterno nessas bodas,
que, como o casal, são de puro diamante.
Antonio Carlos Secchin, Desdizer e antes