As letras brancas de alguns versos me espreitam,
em pé, do fundo azul de uma tela, atrás
da qual luz natural adentra a janela
por onde, ao levantar quase nada o olhar,
vejo o sol aberto amarelar as folhas
da acácia em alvoroço: Marcelo está
para chegar. E de repente, de fora
do presente, pareço apenas lembrar
disso tudo como de algo que não há de
retornar jamais e em lágrimas exulto
de sentir falta justamente da tarde
que me banha e escorre rumo ao mar sem margens
de cujo fundo veio para ser mundo
e se acendeu feito um fósforo, e é tarde.
Antonio Cicero, A Cidade e os livros
Sem comentários