Viver é só sentir como a Morte caminha
E como a Vida a quer e como a Vida a chama…
Viver, minha princesa pobrezinha,
É esta morte triste de quem ama…
Viver é ter ainda uma quimera erguida
Ou um sonho febril a soluçar de rastos;
É beijar toda a dor humana, toda a Vida,
Como eu beijo a chorar os teus cabelos castos…
Viver é esperar a Morte docemente
Beijando a luz, beijando os cardos e beijando
Alguém, corpo ou fantasma, que nos venha amando
É sentir a nossa alma presa tristemente
Ao mistério da Vida que nos leva
Perdidos pelo sol, perdidos pela treva…
António Patrício, Cinco séculos de sonetos Portugueses
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