Esperar por ti foi inventar a paciência
juntar as partes desavindas na procura
depois de tanta ira e tanta ausência
em regressos e idas de pouca dura.
Esperar por ti foi uma invenção
um capricho do corpo resgatado
onde o vício foi medo e paixão
depois de tudo ter acabado.
Esperar por ti foi sobreviver ao silêncio
no dia em que a noite deixou de o ser
e em que o mar abraçou o rio
como se o poeta nascesse para morrer.
Finalmente, há um horizonte sem fim
no teu rosto de menina quando a tarde
traz os ventos e os melros ficam assim:
olhando nos teus lábios o fogo que arde.
António Vilhena, Templo do fogo insaciável