O dia parece montado às pressas
como um presente para indigentes gratos
sendo melhor do que tempo nenhum
mas os sinos estão tocando
em cidades que nunca visitei
e meu nome está escrito em soleiras
que nunca vi
Durante a extração de um osso
ou do que quer que seja macio ou frutífero
lá do cerne de dias indiferentes
eu me esqueci
do toque do sol
devassando manhãs frouxas
A noite é cheia de recados
que não sei ler
Estou muito ocupada esquecendo
ar feito pelo em minha língua
e essas lágrimas
que não vêm de tristeza
mas de areia num às vezes vento
A chuva cai feito breu na minha pele
meu filho pega um coração de galinha na janta
perguntando
isso ama?
Intravessos dedos hábeis de fantasmas
pinçam meus sonhos
segredam qualquer coisa de pesar
que me beneficiaria
Eu estou pronta
e não temo
nada.
Audre Lorde, Entre nós mesmas – Poemas reunidos – Tradução, Tatiana Nascimento, Valéria Lima
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