Sejam quem são e serão
aprendam a celebrar
aquele Anjo Negro ruidoso que lhes guia
pelos altos e baixos dos dias
protegendo o lugar donde seu poder emerge
correndo feito sangue quente
da mesma fonte
que sua dor.
Quando sentirem fome
aprendam a comer
o que quer que dê sustância
até a manhã
mas não se deixem perder em detalhes
simplesmente porque vocês os vivem.
Não deixem sua mente negar
suas mãos
memória alguma do que passa por elas
nem seus olhos
nem seu coração
tudo pode ser usado
menos o que é inútil
(vocês precisarão
se lembrar disso quando forem acusadas de destruição.)
Mesmo quando forem perigosas
examinem o coração das máquinas que vocês odeiam
antes de descartá-las
e nunca lamentem sua falta de poder
pra que não condenem vocês
a revivê-las.
Se vocês não aprenderem a odiar
nunca ficarão sós
o bastante
para amar facilmente
tampouco serão sempre corajosas
embora isso tampouco brote fácil
Não finjam crenças convenientes
mesmo quando são justificadas
vocês nunca conseguirão defender sua cidade
enquanto gritam.
Lembrem-se que nosso sol
não é nem a estrela mais digna de menção
nem a mais próxima.
Respeitem qualquer dor que venha
dos seus sonhos
mas não procurem deuses novos
no mar
nem em qualquer parte de um arco-íris
Cada vez que amarem
amem tão fundo
como se fosse
para sempre
só que nada é
eterno.
Falem com suas crias orgulhosamente
onde quer que as encontrem
digam a elas
vocês descendem de escravizades1
e sua mãe foi
uma princesa
na escuridão.
Audre Lorde, Entre nós mesmas : poemas reunidos