Augusto de Lima – Ilusões que eu amei…

Ilusões que eu amei ao despontar da vida,
bonançosa esperança, esmeraldino mar,
em que vogou meu berço à viração querida
de suspiros de amor; ó aves de meu lar,
jardins que alimentou a carícia materna;
flores que desfolhei, cantando e rindo à luz
de aurora fulgurante e que eu julgava eterna!

Um momento deixai vossos nimbos azuis,
onde, há muito, dormis, e vinde, em revoadas,
robustecer-me a crença, encher-me o coração,
deslumbrar-me na luz de vossas alvoradas
e povoar, enfim, a minha solidão.
Multiplique-se em vós minha, alma a cada passo,
como a cor no cristal prismático do espaço,
e aura em vossa memória o intrépido vigor,
para sempre me achar, valente lutador,
da vida social na porfiada liça,
ao lado do dever e ao lado da justiça.

Vós sois o meu passado e sois o meu porvir,
ensinando-me o Bem e dando-me a sentir
a eterna aspiração, que o ontem nunca perde;
porque é a própria Esperança o grande pendão verde,
atrás do qual desfila o exército vital
das almas à conquista augusta do Ideal.

 

Augusto de Lima, Poesias