Boris Pasternak – Hamlet
O murmúrio cessou. Subo ao tablado.
Apoiado ao umbral da porta,
Procuro distinguir no eco apagado
Os desígnios da minha sorte.
A penumbra da noite me devassa
Por trás de mil binóculos iguais.
Se for possível, Abba, meu pai,
Afasta de mim essa taça.
Amo a Tua obstinada trama
E aceito o papel que me foi dado.
Mas agora representam outro drama.
Ao menos dessa vez, deixa-me de lado.
Mas a ordem das cenas foi prevista
E a estrada chega fatalmente ao fim.
Estou só. Tudo afunda em farisaísmo.
Viver não é passear por um jardim.
Boris Pasternak, Poesia Russa Moderna