Bráulio Bessa

Bráulio Bessa – Grande interior

Eu saí lá do sertão
e cheguei na capital
desconfiado, nervoso,
suando e passando mal
com medo da violência
e com minha inocência
enfrentei esse dilema
decidindo caminhar
em busca de encontrar
a solução do problema.

Caminhando na calçada
eu vi o povo contente
jogando conversa fora
com um olhar inocente.
Eu pensei: Tem algo errado,
só posso estar enganado,
achei que era diferente.

Avistei um shopping center
chamado Shopping do Zé
onde se vende fiado
na confiança e na fé.
Ainda tinha cortesia,
na porta Dona Maria
oferecia um café.

Ao lado do shopping center
um condomínio enfeitado
sem portaria, sem muros
muito bem arborizado
com passarinhos cantando
e a criançada brincando
sem ninguém ser enjaulado.

Eu fui me aproximando
prestando mais atenção,
quando vi já tava dentro
pois lá não tinha portão.
Reparei cada criança,
renovei minha esperança
e acalmei meu coração.

Vi um empinando pipa,
outro soltando pião,
pega-pega, esconde-esconde
de pés descalços no chão
sem nenhum aplicativo,
brincando só de ser vivo
sem um celular na mão.

As avenidas de terra
sem concreto, sem asfalto,
não tinha sinal de trânsito,
o respeito era mais alto.
De noite se via a lua
e passeava na rua
sem nenhum medo de assalto.

No lugar de cada poste
se plantou uma goiabeira
onde qualquer um colhia
sem precisar ir à feira.
E a sombra ainda servia
pras amigas de Maria
fofocar muita besteira.

Não avistei um mendigo
deitado numa calçada.
Eu não vi uma mulher
sofrendo assediada.
Nem ninguém perdendo a vida
por uma bala perdida…
Eu vi a paz restaurada.

No final do entardecer
o sol se pôs devagar
e todo mundo assistiu,
ninguém quis fotografar,
pois todo mundo sabia
que na tarde que viria
ele estaria por lá.

Foi aí que eu acordei
desse sonho tão bonito.
Parece coisa de doido,
soa meio esquisito,
mas eu vi que a solução
tava lá no meu sertão,
feita de paz e amor.
Se essa cidade gigante
vivesse de hoje em diante
como um grande interior.

Bráulio Bessa, Poesia que transforma

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