Pelas vezes em que pude aprender
as lições que nenhuma escola ensina.
Pelas curas sem usar de medicina,
pelo pão que me deram pra comer.
Pelas vezes em que, mesmo sem saber,
fui guiado seguindo seus sinais,
enfrentando meus medos mais brutais
com o escudo do metal da proteção.
Vou pintar com a cor da gratidão
os cabelos prateados dos meus pais.
Pelas aulas de vida que ganhei
de quem mais entendia da matéria.
Por aquela “cara feia”, firme, séria
que eu vi quase sempre que errei.
Pelos sonhos que já realizei,
inclusive os mais loucos, irreais,
impossíveis, talvez irracionais,
aprendi a voar de pés no chão.
Vou pintar com a cor da gratidão
os cabelos prateados dos meus pais.
Pelas vezes em que não me senti só
mesmo estando só eu e minha dor.
Nessas horas eu sentia esse amor
me abraçando e apertando feito nó.
De repente essa dor virava pó
e as feridas que pra mim eram fatais
como um corte feito por vários punhais
um abraço transformava em arranhão.
Vou pintar com a cor da gratidão
os cabelos prateados dos meus pais.
Quando o tempo feroz acelerar
desviando da nossa juventude,
não há nada a fazer para que mude,
não há freio no mundo pra frear.
O ponteiro insiste em não parar,
pro relógio todos nós somos iguais.
Pai e mãe são eternos, mas mortais,
é saudade que se torna oração.
Vou pintar com a cor da gratidão
os cabelos prateados dos meus pais.
Feliz de quem aprendeu
e hoje pode ensinar.
É correr sem esquecer
quem lhe ensinou a andar.
Feliz de quem dá amor
pra quem só fez lhe amar.
Feliz de quem pode ter
companheiros tão leais.
Feliz de quem agradece
com sentimentos iguais.
Feliz do filho que vira,
um dia, pai de seus pais.
Bráulio Bessa, Um carinho na alma