Carne-seca e macaxeira
um cozido de capote
água fria lá no pote
melhor que da geladeira.
No terreiro a poeira
se espalha na imensidão
de paz e de comunhão
que não se vê na cidade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.
Bodegas pra se comprar
é o nosso supermercado
que ainda vende fiado
pois dá pra se confiar.
Um caderno pra anotar
não carece de cartão
pois às vezes falta pão
mas não falta honestidade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.
Tem cuscuz na cuscuzeira,
tapioca e mucunzá
um bolinho de fubá
e tripa na frigideira.
Milho assado na fogueira
que aquece o coração
além de ser tradição
é comida de verdade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.
A família retratada
pendurada na parede
não tem curtidas na rede
mas tem rede bem armada.
A vida não é postada
nem passa em televisão,
o HD do coração
é quem salva de verdade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.
A criançada brincando
de ser livre, de ser vivo
sem ter um aplicativo,
sem ter download baixando.
Vejo um menino pintando
um desenho feito à mão
sem nenhuma intervenção
lhe roubando a ingenuidade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.
Tem o som da natureza
melhor que MP3
eu garanto a vocês
nem se compara a beleza.
Existe tanta riqueza
espalhada nesse chão
como disse Gonzagão
e ecoa na eternidade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.
Tem a seca, essa bandida
que é cinza feito o asfalto,
porém não temos assalto
tampouco bala perdida.
Não é fácil nossa vida,
mas transbordo a gratidão
de viver nesse torrão
mesmo com dificuldade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.
Ninguém venha me tachar
de matuto, ultrapassado,
tampouco desinformado,
é fácil de se explicar.
Se um dia o homem usar
toda e qualquer invenção
pensando em evolução
e no bem da humanidade,
a tal da modernidade
é bem-vinda no Sertão.
Bráulio Bessa, Poesia que transforma
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