Por que despertar em mim esse animal
alucinado. Animal de olhos de fogo.
Selvagem e louco. Esse animal acuado
que perde sangue no jogo. Essa fera
que te ataca e te resiste. Que, por pouco,
não te mata. Ah, essa desenfreada que me existe
e me devora. Por que despertá-la agora,
já que há tanto vinha adormecida.
Por que assustá-la assim, em meio ao sono.
Por que arrancá-la bruscamente de seu sonho
e transportá-la de repente para a vida.
Por que despertar em mim essa cavala doida
que vai te galopar de corpo inteiro. Enlouquecida,
que vai se ferir em meio ao trote. Por que atiçar esse bicho
que nessa luta vai morrer primeiro,
que vai morrer de fome, de grito, de garganta enxuta,
de tanta entrega. Dilacerado da tanta força bruta.
Por que despertar essa besta que me habita
que se torna cruel e desumana quando aflita.
Por que gritar com ela no silêncio de um sono branco
em que já vinha há tanto. Por que provocá-la em meio ao espanto
quando ainda não era o seu tempo.
Bruna Lombardi, Poemas Reunidas
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