Me preparo para ser o que sou
e me preparo lenta
como lentamente se preparam
poções, venenos, a gestação.
Lentamente como se detona uma explosão,
como voam os estilhaços pelo espaço.
Me preparo para ser o que sou
com a lentidão de um voo
e me preparo sem pressa.
Tudo o que virá agora começa
lento como o uivo dos lobos,
o derramar da lava dos vulcões.
Lenta como a vingança de famílias
que atravessa gerações.
Lenta como a luz veloz,
o gosto do alcaçuz, a voz
de alguém que chama.
Lenta como a bala de revólver
que se projeta e atinge.
Lenta como a flecha
que se arremessa no alvo
e acerta o ponto exato.
Como o tato do homem que me toca
lentamente e toca e toca
e toca essa música
que há anos me acompanha.
Me preparo para ser o que sou
Simples e tamanha.
Bruna Lombardi, Clímax
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