É então que aquele pária das próprias ilusões,
o encarcerado que ninguém visita,
gruda-se às grades como a parasita
ao fim das estações
e, a sós com os nevoeiros, se limita
a desfolhar visões.
Não tendo a quem contar que necessita,
Senhor, do que lhe pões
fora de mão segundo Tua estrita
e amarga disciplina, aos encontrões
contra si mesmo desenlaça a fita
mais puída da névoa e espalha as confissões.
Pobre infeliz! Nunca tem mais que a bruma e, aflita,
só entre assombrações,
sua alma pavoneia-se, torna-se a gralha, imita
os gritos do pavão ciscando entre os pinhões.
Se um som assim te irrita,
leitor, fecha este livro e vai ouvir canções…
Bruno Tolentino, A balada do cárcere
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