Descobre-se que a paixão,
a paixão e a primavera,
se são paralelas são
dois termos da mesma espera.
Espera encantada ou não,
ambas não passam de mera,
febril aproximação
da jaula aberta da fera,
tremor contínuo da mão
que agarra o gradil e enterra
as unhas na solidão
que força mas não descerra.
Mordida de comunhão,
no tronco o dente da serra,
no dente o grito do grão,
e a boca aberta da terra
recebe e fecunda o chão
com os pedaços que a pantera
desmembrou na confusão
com o corpo que já não era
sequer a gazela e em vão
se debate e dilacera
de tanta sofreguidão.
A véspera desespera.
Bruno Tolentino, A Balada do cárcere
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