Bruno Tolentino – Ímpar
“E eu, que odeio tudo o que recordo
em meu penoso, sórdido exercício,
a harmonia mais frágil que difícil,
mais passível de encanto que de acordo;
eu, que hoje escuto o rouxinol e o tordo
entre grades e névoas, desde o início
sabia que a beleza é um precipício
e que o mesmo Verão consume a cor
do efêmero que acende… Eu, que aceitando
a imperfeição de tudo iria dar
com a perfeição moral de vez em quando,
agora, aqui, na luz crepuscular
deste lugar vazio, tenho um bando
de visões, só não posso ter um par.”
Bruno Tolentino, A balada do cárcere