Deitado ao frio espero
a transição que já vem:
Galo rompendo luas
galopando entre marcas
que não ousam assentar.
Onde a noite me recolhe
em silente nostalgia
mando notícia dos meus:
A família se dissolve
e transborda mansamente,
dispersante além do frasco:
Insônia ramo partido
medo, tortura, asco.
A cada passo uma pena
a cada traço uma cena
desafia os meus olhos
nem duo de contrição.
E vou de mim despedindo,
aceno ao largo, na volta,
em mim mesmo que prescrevo
sinuosa afeição.
Sou mapa e não me desvendo,
sou ilha e não me abraço.
Sou chama na saliência
deste incontido amor.
Peixe parindo rios,
cristal de minha ambição
que se recua a si mesmo
entre vísceras latentes
retidas no alçapão.
Terra de peixe: magia.
Sangue de peixe: noção.
Não era sangue nem terra
adubo de fina hera
e alga também não era
convergindo na feição.
Não era sangue e tingia
não era amor e doía
pungia no coração.
Que sombra já me pressente
e me nomeia até mesmo
onde não mando cartão?
Indago apontamentos
e me censuro e cerco
o que de mim esvoaça
sem formas de contenção.
Estou partindo: para onde?
Viajo pelo deserto
e sinto que vou morrer.
E sinto voar a pena
ao longo de meus cabelos.
Agora estou livre e deito
numa planície minada.
Entre rios cresce a chama
buscando uniformidade,
uma orquídea entre as ramas.
Em meus olhos cravejados
constroí o peixe o retiro:
Fluir além das escamas.
Cacaso, A Palavra Cerzida
Sem comentários