Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade – Igreja

Tijolo
areia
andaime
água
tijolo.
O canto dos homens trabalhando trabalhando
mais perto do céu
cada vez mais perto
mais
— a torre.

E nos domingos a litania dos perdões, o murmúrio das invocações.
O padre que fala do inferno
sem nunca ter ido lá.
Pernas de seda ajoelham mostrando geolhos.
Um sino canta a saudade de qualquer coisa sabida e já esquecida.
A manhã pintou-se de azul.
No adro ficou o ateu,
no alto fica Deus.

Domingo…
Bem bão! Bem bão!
Os serafins, no meio, entoam quii ieleisão.

 

Carlos Drummond de Andrade, Fazendeiro do ar

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