Carlos Drummond de Andrade – O Combate da luz

O combate da luz
contra os monstros da sombra:
assim tua poesia
é alvorada e angústia.

Pousa a morte nos ramos
do tronco apendoado.
Mas da seiva rebentam
novos, florentes cânticos.

Não pode o céu noturno
desfazer os berilos,
os íntimos diamantes
do verso teu ao mundo,

inefável presente
não de matéria vã:
do que melhor define
o fluido sentimento,

o lancinante anseio,
a sublimada essência
do amor, cativo e livre
– teu lírico segredo.

Pois pelo amor resgatas
o pensamento lúgubre,
a dor de antigas fontes,
as perdidas paragens,

e na era absurda crias
a ligação perene
da saudade dos anjos
na chama da poesia.

Carlos Drummond de Andrade, Amar se aprende amando