Tudo o que é instante, tudo o que é traço
Sepultaste nos séculos, Ravena.
Como uma criança, no regaço
Da eternidade estas, serena.
Sob os portais romanos os escravos
Já não trazem mosaicos pelas vias.
O ouro dos muros arde
Nas basílicas lívidas e frias.
Os arcos dos sarcófagos desfazem,
Sob o beijo do orvalho, as cicatrizes.
Nos mausoléus azinhavrados jazem
Os santos monjes e as imperatrizes.
Todo o sepulcro gela e cala,
Os muros mudos, desde o umbral,
Para não acordar o olhar de Gala,
Negro, a queimar por entre a cal.
Das pegadas de sangue e dor e insídia
O rastro já se apaga e se descora,
Para que a voz gelada de Placídia
Não se recorde das paixões de outrora.
O longo mar retrocedeu, longínquo,
As rodas circundaram as ameias,
Para que os restos de Teodorico
Não sonhem com a vida em suas veias.
Onde eram vinhedos – ruínas.
Gente e casas – tudo é tumba.
Sobre o bronze as letras latinas
Troam nas lajes como trompa.
Apenas, no tranquilo e atento olhar
Das moças de Ravena, mudamente,
Às vezes uma sombra de pesar
Pelo irrecuperável mar ausente.
À noite, inclinado nas colinas,
Só, pondo os séculos à prova,
Dante – perfil aquilino –
Canta para mim da Vida Nova.
Aleksandr Blok, Poesia da recusa