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Ana Bailune

Ana Bailune

Ana Bailune – É na alma

É só na alma,
Na branca paz da alma,
Na calma,
Ou na calda quente,
Fervente da alma,
Que desabrocham,
Ascendem,
Revelam-se…

É só no sangue,
No vermelho mais rubro,
No escuro,
Na luz viva
E ativa
Da alma,
Que eu me desaguo.

Não é o número
Dos meus passos,
Ou de minhas sílabas
Que determinam
O que me determina!
É só a alma,
Aquela parte de mim
Que está entre o ir
E o ficar,
O dizer

E o calar,
O morrer
E o viver,
O acordar
E o sonhar.

Sempre no meio,
Um pé no chão,
Outro na lua,
Um pensamento cúbico,
Outro pensamento súbito,
Uma nesga de treva
E outra nesga de luz.
E tudo vem da alma,
Esse lago que não seca,
Que não seca jamais.
É de lá que eles vem:
Os meus poemas,
E de nenhum outro lugar
Que tu ou qualquer
um Queiram nomear!

 

Ana Bailune, 15 Poemas vol. I

Ana Bailune

Ana Bailune – O lobo

Ele se foi de mim,
E hoje uiva nas estepes,
Solitário lobo,
Sem casa e sem pouso,
Tão longe de mim.

Ah, e eu te procurei,
E eu te quis por perto,
Num resgate
De peito aberto
Desse meu triste e imensurável
Deserto.

Lobo, se tu uivas
Em noites assim
De luar claro,
Algo estremece em mim…
Pois és a parte que me falta,
A que fugiu de mim
No dia em que nasci.

E eu espero,
E eu procuro,
Deixo a porta sempre aberta
E um bom naco de minha carne
Na esperança de rever-te,
Na esperança de juntar-me a ti,
Pedaço de minha alma.

Anseio pela alegria
De finalmente, reencontrar-te,
Parte ausente de mim,
Nem que seja
No limiar da incerteza,
No meu último dia,
Criatura Divina.

 

Ana Bailune, 15 Poemas Vol. I

Ana Bailune

Ana Bailune – Acorrentado

De que adianta ser anjo,
Se estás preso a uma jura?

Quando as asas aprisionam,
Em um voo indesejado
E alcanças as alturas
Ao teu ego, acorrentado?

Ah, nada sabes
Do quanto ainda és escravo!

Pois um anjo verdadeiro
Voa, sem a pretensão
De chegar ao paraíso,
Pois o leva dentro em si.

De que adianta ser anjo,
Se não consegues sorrir?

Pois se temes esse mal
Que carregas em tua alma,
Dele, tu serás a vítima,
E te perderás de ti…

Pois um anjo, no espelho
Vê além do seu reflexo,
Vê a essência do Divino
Adormecida em seu plexo.

De que adianta ser anjo
Se tua reza não tem fé?

Ah, palavras que derramas,
Sem razão e sem porquê
Sobre um solo ressecado
Qual sementes a morrer.

Pois a oração de um anjo
Transcende toda a palavra,
É a flor do sentimento
Brotando de alma para alma.

De que adianta ser anjo,
Se não há felicidade,
Se não um paraíso,
Se não há uma verdade?

Ana Bailune, Volume I

Ana Bailune

Ana Bailune – Se soubéssemos

Se soubéssemos
Quantos adeuses se escondem,
Adormecidos,
Por trás de cada ‘olá’,
Talvez nós não deixássemos
A vida passar,
As pessoas irem embora
Sem nosso mais atencioso olhar…

Se soubéssemos
Que a estrada sob os pés
Pode, a qualquer momento,
Desabar,
Talvez prestássemos mais atenção
À linda paisagem que nos cerca,
E que foi com amor, criada
Para que a possamos desfrutar.

Se soubéssemos
Que cada palavra proferida
Pode ter um imenso, enorme peso
Por sobre uma vida,
Talvez as medíssemos com cuidado
Antes de deixá-las caírem
Em ouvidos errados.

Se soubéssemos
Que tudo o que hoje vivemos
Em breve, tornar-se-há lembranças
Que, no futuro, teremos
Para reviver em noites longas e vazias,
Talvez fôssemos mais felizes,
Quem sabe, escolhêssemos cores mais bonitas
Para pintarmos cada dia!

Ana Bailune, Volume I