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Ana Guadalupe

Ana Guadalupe

Ana Guadalupe – Guerra

tique nervoso
à espera de alguém
que venha

beber água
desabotoar as calças
jogar bola

atirar no macio
arrancar os músculos
acumular fôlego

pra sufocar
com o próprio peso
o peso do outro:

uma bigorna
um piano
um travesseiro

Ana Guadalupe, Relógio de Pulso

Ana Guadalupe

Ana Guadalupe – Poltrona para entidades

rua não escureça
janela não se feche
persianas não venham com loucuras
a não ser na presença
de telas vigilantes
e de abajures sensíveis
ao toque
quando além dos nomes
se confundem os tornozelos
narizes idênticos
cílios bem distribuídos
se falta luz joelhos gêmeos
se movem retos do mesmíssimo
jeito

Ana Guadalupe, Relógio de Pulso

Ana Guadalupe

Ana Guadalupe – Passé composé

as escadas
pra perguntar sobre as palavras
derrubadas pelo meu sotaque

afirmei que meu amor é
enorme, um móbile
perdido entre arandelas;

disse que meu amor é
firme, retorna com maçãs
e canela nas pernas;

se perguntasse sobre a
fertilidade, os pernilongos,
a falta de sorte,

responderia que meu amor é
forte, chacoalha as árvores
sempre que parte.

Ana Guadalupe, Relógio de Pulso