Lá as igrejas são brancas e o gelo brilha e ressoa,
lá florescem os olhos azuis de meu filho querido.
Sobre a cidade, pende a noite russa incrustada de
diamantes
e o crescente no céu é mais dourado que o mel.
Lá as tempestades de neve sopram das planícies, do outro
lado do rio
e os homens, como anjos, rejubilam-se a cada dia santo.
Limparam o maior cômodo da casa, junto aos ícones
acenderam as lâmpadas
e as Escrituras repousam numa pesada mesa de carvalho.
Lá as lembranças amargas – hoje para mim tão raras –
abriram-me as janelas de seus torreões, com uma
profunda reverência.
Mas não entrei: bati com força a porta assustadora.
E a cidade encheu-se com o alegre bimbalhar dos sinos de Natal.
Anna Akhmátova, Antologia poética