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António Mendes Cardoso

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António Mendes Cardoso – É inútil chorar

António Mendes Cardoso

É inútil chorar:
“Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.”
Por todos os que tombam pela verdade
Ou que julgam tombar.
O importante neles é já sentir a vontade
De lutar por ela,
Por isso é inútil chorar.
Ao menos se as lágrimas
Dessem pão,
Já não haveria fome.
Ao menos se o desespero vazio
Das nossas vidas
Desse campos de trigo.
Mas o que importa
É não chorar:
“Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.”
Mesmo quando já não se sinta calor
É bom pensar que há fogueiras
E que a dor também ilumina.
Que cada um de nós
Lance a lenha que tiver,
Mas que não chore
Embora tenha frio:
“Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.”

António Mendes Cardoso, Poemas de circunstâncias

António Mendes Cardoso

António Mendes Cardoso – Árvore de frutos

António Mendes Cardoso

Cheiras ao caju da minha infância
e tens a cor do barro vermelho molhado
de antigamente;
há sabor a manga a escorrer-te na boca
e dureza de maboque a saltar-te nos seios.

Misturo-te com a terra vermelha
e com as noites
de histórias antigas
ouvidas há muito.

No teu corpo
sons antigos dos batuques à minha porta,
com que me provocas,
enchem-me o cérebro de fogo incontido.

Amor, és o sonho feito carne
do meu bairro antigo do musseque!

António Mendes Cardoso, No reino de Caliban