Browsing Category

Charles Simic

Charles Simic

Charles Simic – Noite de ventania

Charles Simic

Este mundo velho precisa de uma escora
Quando fica assim frio e com essa ventania.
Os cenários engenhosamente pintados,
Ah, como balançam!
Estão prestes a despencar.

Não haverá nada senão espaço infinito.
O silêncio supremo. Silêncio todo-poderoso.
Céu egípcio. Estrelas feito tochas
De ladrões de túmulos entrando nas criptas dos reis.
Até o vento faz uma pausa, esperando para ver.

Melhor se agarrar àquela árvore, Lucille.
Sua forma fendida, aterrorizada.
Eu me agarro no celeiro.
As galinhas estão agitadas.
Galinhas sábias mundo estragado.

Charles Simic, Meu anjo da guarda tem medo do escuro – Tradução, Ricardo Rizzo

Charles Simic

Charles Simic – Leia o seu destino

Charles Simic

Um mundo desaparecendo.
Pequenina rua,
Você era tão estreita,
Já tão imersa na sombra.

Você tinha apenas um cachorro
Uma criança sozinha.
Você escondeu seu maior espelho,
Seus amantes sem roupa.

Alguém os recolheu
Num caminhão aberto.
Eles ainda estavam nus, viajando
Em seu sofá

Sobre uma planície escura
Um desconhecido Kansas ou Nebraska
Com uma tempestade em formação.
A mulher abria um guarda-chuva vermelho

No caminhão. O garoto
E o cachorro os perseguiam
Como se perseguissem um galo
Com a cabeça cortada.

Charles Simic, Meu anjo da guarda tem medo do escuro

Charles Simic

Charles Simic – O segredo

Charles Simic

Tenho minha desculpa, Sr. Morte,
O velho bilhete que minha mãe escreveu
No dia em que faltei à escola.
Nevava. Falei que minha cabeça doía
E o peito também. O relógio deu
A hora, deitei na cama do meu pai
Fingindo dormir.

Pela janela pude ver
Telhados cobertos de neve. Na minha cabeça,
Eu montava um cavalo; estava num navio,
Num mar tormentoso. Então cochilei.
Quando acordei, a casa estava calma.
Onde estava minha mãe?
Escrevera o bilhete e partira?

Levantei e fui procurá-la.
Na cozinha nosso gato branco
Mordiscava a cabeça sangrenta de um peixe.
No banheiro, a banheira estava cheia,
O espelho e a janela embaçados.
Quando os enxuguei, vi minha mãe
De roupão de banho e chinelos
Falando com um soldado na rua
Enquanto a neve ia caindo,
E ela pôs um dedo
Sobre os lábios, e lá o deixou.

Charles Simic, Meu anjo da guarda tem medo do escuro

Charles Simic

Charles Simic – Arquitetura penal

Charles Simic

Escola, prisão, orfanato público,
Percorri seus corredores cinzentos
De pé nos cantos mais escuros
a cara contra a parede.

O assassino sentou-se na fileira da frente.
Uma Ofelinha louca
Escreveu a data no quadro-negro.
O carrasco era meu melhor amigo.
Sempre de preto.

Paredes fendidas, descascadas
Grades em todas as janelas,
Sequer uma lâmpada
Para o menino na solitária
E o velho diretor
Põe os óculos.

Naquele cômodo com seus poentes vermelhos,
Era a vez da eternidade falar,
E nós ouvíamos sem respirar
Embora nossos corações
Fossem feitos de pedra.

Charles Simic, Meu anjo da guarda tem medo do escuro