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Isabela Escher

Isabela Escher

Isabela Escher – Presença

As lágrimas imprevistas,
tristes, quentes e instintivas,
ainda estão em mim.
Elas são mais líricas
do que os versos que te escrevi.
Arderam nas minhas pálpebras
no ligeiro desvio do meu olhar.
Tua respiração dolorida e contida
sussurrou que a tua alma
também as sentia queimar.

Nossos lábios estavam brancos de espuma,
quando, depois do beijo salgado,
te sopraram ventos de bruma…

Teias de amar estendi
sobre o vasto e impotente oceano.
Nelas, o suave canto das sereias
e todas as areias pelas quais caminhamos.
Em velas azuis de sonhos em desalinho,
nos amamos sem mapas
em um audaz desafio.

 

Isabela Escher, 15 Poemas

Isabela Escher

Isabela Escher – Mágoas brancas

Essas contas pequenas e alvas
que encontrei em meio à vida
envolvem a mim mesma
como uma roda dentada e inofensiva.

Essas contas mordem pungentes.
Parecem desvanecidas,
mas aguilhoam não só a minha alma
como também quem dela se aproxima.

Escondo-as de mim própria,
e sempre as reencontro,
eu as revivo na realidade e no sonho.

Hoje essas mágoas brancas
estão na pulseira da mão que escreve
entre mil outras contas encontradas e perdidas.

Isabela Escher, 15 Poemas – Vol. III

Isabela Escher

Isabela Escher – Tessitum

O teu olhar desfia fibra a fibra o meu coração
e tuas mãos brincam com a trama desfeita,
deixando-me alegre, triste, plena, insatisfeita,
sem, entretanto, me tirar, de controle, a ilusão.

E então pelo papel voa a minha mão
buscando o verso perfeito para cada instante, mas,
no meio da estrofe, parando, e palavras riscando,
tentando alcançar os pomos inebriantes da Inspiração.

Por que é tão difícil te cantar? Porque sei que, por mais
que em teu poder esteja eu, ainda és homem
e não deus.

E em cada palavra minha quero te ter inteiro,
colocar em todo verso tuas virtudes e defeitos,
que assim tu serás ainda mais só meu.

Isabela Escher, 15 Poemas – Vol. III