Para que todo o universo brilhe a uma só voz
lá fora a noite assiste a mesa com que somos
nós, dois, três, quatro, cinco filhos foram mas
não nasceram, uma noite a nossa escuridão,
filhos que morreram sem terem sido, amor perdido,
choros em vão. A morte é aquela interrupção. Que
seria desta casa elevada ao cubo, livros na garagem
para ganhar um pequenino coração? Fim. Adeus.
Terminou. O menino morreu. A menina desapareceu.
Quem foi não chegou. Como podemos nós perder
quem nunca nos veio a pertencer? Chega de solidão,
chega de pensar no que morreu, a vida é o que foi,
passado e memória, não futuro. Esse não existe, nem
quando à noite o universo nos assiste. A morte é a curva
na estrada. É sempre preciso um poema para inundar
de impossibilidade uma tristeza sempre inacabada.
Jorge Reis-Sá, Pátio