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Júlia Cortines

Júlia Cortines

Júlia Cortines – Desencanto

A alma me disse: –“Quero, sacudida
De inspiração nas asas, me elevar
Do tenebroso pélago da vida
Às profundezas do celeste mar,

Onde resplende a vaga azul, batida
De sol, e a Via láctea, a flamejar,
Entorna sobre a vaga enegrecida
As contas luminosas do colar.”

Quando desceu: –“Os céus a que subiste
De oiro e de azul em realidade são?
(Interroguei-a) Fala: o que é que viste

Ao fundo dessa rútila amplidão?”
–“Da treva apenas vi, surpresa e triste,
O ilimitado e lúgubre golfão…”

 

Júlia Cortines, Poesias Reunidas

Júlia Cortines

Júlia Cortines – Só

Sobre o Ocaso, que a luz, refrangindo, avermelha,
Correm rapidamente as nuvens; fustigadas
Pelo açoite febril das agudas rajadas,
Que as enovela no ar e no ar as esguedelha!

E Vésper tremeluz, como branca centelha,
De momento a momento; e, quais brutas manadas,
Se atropelam, bramindo, as maretas iradas
Em torno do baixel em que minha alma ajoelha.

Ó estrela do amor, à porta rutilante
Do Ocaso para, opondo o resplendente olhar
À noite, que salteia o meu baixel errante!

Mas somes-te… e eis-me só… os abismos do mar
Tendo aos pés, e ao redor o vento sibilante,
E por sobre a cabeça o trovão a estourar…

 

Júlia Cortines, Poesias Reunidas