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Júlio Dinis

Júlio Dinis

Júlio Dinis – És bela

És bela, sim, quando, corando, foges
De um beijo perseguida;
Ou quando cedes com mais pejo ainda,
Mas na luta vencida.

És bela, sim, quando, banhada em lágrimas,
Soltas mimosas queixas;
Ou quando, comovida por maus choros,
Já ameigar-te deixas.

És bela, sim, à luz do Sol nascente
Regando as tuas flores,
Ou com os olhos no ocaso e o pensamento
No país dos amores.

És bela sempre, e o mesmo fogo acendes
No coração do poeta;
És bela sempre, ó linda flor do prado,
Ó mimosa violeta,

 

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Júlio Dinis

Júlio Dinis – O segredo destas lágrimas

Quem te disse o segredo destas lágrimas,
Pra assim me consolares?
Quem te disse que a dor que me angustiava
Cedia aos teus olhares?

Criança, onde aprendeste essa ciência,
Ignorada de tantos?
Algum anjo do Céu é quem te inspira
Do conforto os encantos?

Oh! Vem, vem junto a mim com os teus sorrisos
Livrar-me destas trevas,
Rir-te do meu ar lúgubre, falar-me,
Vem, que só tu me enlevas.

Protegido por ti em círculo mágico,
Desafio a tristeza,
Que onde a infância se mostra tudo folga,
Homens e natureza;

Para ti, para a tua idade descuidosa
Semeou Deus as flores,
Deu-te o cantar das aves por cortejo,
Deu-te o Céu por amores.

Vem, pois, os teus cabelos de ouro puro
A pousar-me na cara,
Como os raios do Sol cingindo as serras
Ao surgir no horizonte.

Vem, que junto de ti nem compreendo
Estes falsos tormentos;
Mensageira celeste, sê bem-vinda,
Longe meus pensamentos!

Quando, baixando o rosto, os olhos pousam
Em sorrisos de infantes,
Esquece-se o infortúnio, os risos voltam
E erguemo-nos radiantes.

Assim como nos rimos dos teus ogos,
Tu ris das nossas penas;
Ambos somos crianças, variando
O nosso brinquedo apenas.

Tu criaste uma vida imaginária
Que cede à fantasia.

Nós com a vida real também brincamos,
Porém sem alegria.

 

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Júlio Dinis

Júlio Dinis – O teu pensamento

Onde vai o teu pensamento
Quando, os olhos elevando,
Segues das aves ligeiras
Esse harmonioso bando?

Que te dizem os gorjeios
Dessas pobres foragidas,
Que vão procurar ao longe
Outras selvas mais floridas?

Acaso temes, como elas,
As nuvens negras, pesadas,
E os ventos que descem rápidos
Das altas serras nevadas?

Acaso invejas as asas
Desses plumosos viajantes?
Acaso aspiras à vida
Noutros climas mais distantes?

Não, querida, não receies
Do Inverno os duros rigores;
Quando do Sol falta a chama
Brilha a chama dos amores.

Não são para nós mais lúcidas
As noites que o próprio dia?
Que onde a luz do céu falece,
A paixão é que alumia.

E o gelo, que as pobres aves
Na relva prostra sem vida,
Fundir-se-á ao fogo ardente
Da nossa paixão, querida.

 

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Júlio Dinis

Júlio Dinis – Uma recordação

Lembra-me ver-te inda infante,
Quando nos campos corrias
Em folguedos palpitantes;
Eras bela! E então sorrias.

Depois, na infância, eras inda,
Junto ao cadáver rezavas
De tua mãe, com dor infinda;
Eras bela! E então choravas.

Num baile vi-te valsando
Da juventude nos dias,
Todos de amor fascinando;
Eras bela! E então sorrias.

Dias depois encontrei-te;
Nos céus os olhos fitavas;
Sem me veres contemplei-te;
Eras bela! E então choravas.

Quando ao templo caminhando
Entre flores e alegrias,
De esposa a vida encetando,
Eras bela! E então sorrias.

Quando na campa do esposo
Com teu filho ajoelhavas,
Grupo inocente e saudoso!
Eras bela! e então choravas.

Num ataúde deitada
Eu te vi em breves dias,
Mimosa flor desfolhada!
Eras bela! e então sorrias.

Sorrindo, na vida entraste,
Sorrindo deixaste a vida;
Alguma flor que encontraste
A espinhos a viste unida.

Sim, às vezes tu sorrias,
E os sorrisos o que são?
Quase sempre profecias
Das penas do coração.

 

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