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Laura Wittner

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Laura Wittner – Por que é conveniente ir ler em cafés

Laura Wittner

Se o poema interessar
você se detém nessa página tempo
suficiente para produzir
uma manchinha de café.
Uma manchinha de café
não decodificada
ou com reminiscências
de matagal, de pesponto
de cabeça de rã.
Esta confirmação
da materialidade
pelas próprias mãos
adensa o poema
e enobrece a página.
A 39, para sermos exatos.

Laura Wittner, Tradução da estrada – Tradutor, Estela Rosa, Luciana Di Leone

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Laura Wittner – As coisas escuras

Laura Wittner

Podem ser densas, com um núcleo profundo:
nesse caso vão pesar toneladas
e irão se depositando
nos sucessivos subsolos da incompreensão.
Ou podem piscar, ser leves
capazes de interromper a luz
sem nenhuma certeza: nem elas sabem o que contêm.
Como quando meu filho levantou o olhar
à noite, para a janela
e perguntou: “Você está vendo isso?”
e eu disse: “Não. Sim. Não sei. O que é?”
e ele me disse: “Algo que está e não está
mas pelo menos você vê também”.

Laura Wittner, Tradução da estrada – Tradução, Estela Rosa, Luciana Di Leone

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Laura Wittner – A um deus desconhecido

Laura Wittner

Não sei se passou tempo suficiente
mas acho que já posso idealizar
esse concerto de órgão na igreja
que manteve nós dois em silêncio
descansando do calor e da chuva.
No que você pensava?
Você fechou, como eu, os olhos?
Você tinha, como eu, vibrante
na língua o gosto do café?
Eu tirei as sandálias
e apoiei os pés numa almofada
gelada, forrada de corino.
Você deixou cair uma moedinha.
Fez um minúsculo tim-tim e sorrimos.
O órgão nos encantou como serpentes
e por um momento pareceu desenvolver
toda uma série de impressões religiosas
no sentido de algo que podemos chamar
religião: algo que englobe
o amor e a bondade e conduza
diretamente à experiência, esse colchão
concreto que nos dá refúgio e nos sacode.

Laura Wittner, Tradução da estrada