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Ledusha Spinardi

Ledusha Spinardi

Ledusha Spinardi – Rubber soul

Ledusha Spinardi

agora que envelheço e os músculos da face
ameaçam meu talento
para o assobio
aflora tal percepção do ocaso
que assisto siderada ao fim do fôlego de uma gota
na brancura da pia como àquela ária
com que a Callas suprimiu o meu
que mal conhece ópera
já tive medo de padres e sinos
nunca de tempestades
riso de olhos asas de lágrimas pernas de corisco
Bandeira marcado à brasa era toda ouvidos
rabiscos construíram também o que não sou

agora que envelheço
(falo de dentro como quem olha de fora)
meu desconforto isento de recato
estende-se onde bem quer

Ledusha Spinardi, Lua na jaula

Ledusha Spinardi

Ledusha Spinardi – Onde

Ledusha Spinardi

estampa de quintal desalinhado
soluços de musgo abafados
conta-gotas latas pedaços de arame
fetos de sabe-se lá que plantas
faces de tábua ressecadas pregos retorcidos
origamis de tempo
a clamar por uma existência de pétala

todo seu poder de ser e desistir encontra-se ali
na faísca do gume de um caco de vidro verde
no crepitar das rodas de um triciclo manco
sobre folhas e gravetos atemporais
o sol um olho de cristal sangrado
roído pelas marés

Ledusha Spinardi, Lua na jaula