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Manuel de Melo Duarte Alegre

Manuel de Melo Duarte Alegre

Manuel de Melo Duarte Alegre – As sete penas do amor errante

manuel de melo duarte alegre

Eu não sei se os teus olhos se gaivotas
mas era o mar e a Índia já perdida
as ilhas e o azul o longe e as rotas
minha vida em pedaços repartida.

Eu não sei se o teu rosto se um navio
mas era o Tejo a mágoa a brisa o cais
meu amor a partir-se à beira-rio
em uma nau chamada nunca mais.

Eu não sei se os teus dedos se as amarras
mas era algo que partia e que
ficava. Ou talvez cordas de guitarras
ó meu amor de embarque desembarque.

Eu não sei se era amor ou se loucura
mas era ainda o verbo descobrir
ó meu amor de risco e de aventura
não sei se Ceuta ou Alcácer Quibir.

Eu não sei se era perto se distante
mas era ainda o mar desconhecido
ou Camões a penar por Violante
as sete penas do amor proibido.

Eu não sei se ventura se castigo
mas era ainda o sangue e a memória
talvez o último cantar de amigo
amor de perdição amor de glória.

Eu não sei se teu corpo se meu chão
mas era ainda a terra e o mar. E em cada
teu gesto a grande peregrinação
das sete penas do amor lusíada.

Manuel Alegre, Atlântico

Manuel de Melo Duarte Alegre

Manuel de Melo Duarte Alegre – Natal

manuel de melo duarte alegre

Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia. 
Era gente a correr pela música acima. 
Uma onda uma festa. Palavras a saltar. 

Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima. 
Guitarras guitarras. Ou talvez mar. 
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia. 

Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia. 
No teu ritmo nos teus ritos. 
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia). 
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos. 
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia. 
No teu sol acontecia. 

Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia). 
Todo o tempo num só tempo: andamento 
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia. 
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva 
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva 
na cidade agitada pelo vento. 

Natal Natal (diziam). E acontecia. 
Como se fosse na palavra a rosa brava 
acontecia. E era Dezembro que floria. 
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava. 
E era na lava a rosa e a palavra. 
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia. 

Manuel de Melo Duarte Alegre, Antologia Poética