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Mariana Botelho

Mariana Botelho

Mariana Botelho – Legado

navegar o centímetro do gesto
no mar infinito do verbo

é teu o que te for dado:
o olhar cansado preso à teia,
o medo já domado da fera,
o beijo.

tudo o mais
entrega

eu te quis em meio a essas violentas
portas enquanto
o amor se confundia em
minhas pernas se perdia
entre as frestas
inundava meus vãos

 

Mariana Botelho, O Silencio tange o sino

Mariana Botelho

Mariana Botelho – Intimidade

um pequeno itinerário de passos
uma claustrofobia acariciada
gente que todo dia
me bate à porta e entrega
cílios meus que encontraram
na calçada

o dedinho de uma linda preta
com quem dividir os cílios caídos
com quem dividir o medo
de não sobreviver e de sofrer
a violência das crianças na escola

aquela voz grave todas as manhãs
todas as manhãs
aquele cheiro só
aquele cheiro de capim chovido
os olhos negros do meu pai
e uma cidade íntima
soluçando dentro de mim

os olhos do meu pai fincaram em mim duas colunas de óleo negro
buscando retalhos de amanhecer

em vão

nada digo
que seja digno de claridade

Mariana Botelho, O Silêncio Tange o Sino