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Mario Faustino

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Mário Faustino – Poemas do anjo

mario faustino

I

Em rosa pura e lírio
o anjo está presente
quisera em rosa pura
ou lírio transformar-me

Por mais que sempre o cante
o anjo não me atende
ouve talvez porém
a voz do anjo é silêncio

Por que sempre buscá-lo
se o anjo tocado
perde as asas e chora?

O anjo não tem sombra
o anjo nunca é visto
apenas pressentido.

II

Suave rumor de passos em viagem
Vens como o vento acalentando as folhas
Adormecendo a rosa à tua passagem

Donde esta paz o sono o sonho a sombra?
Apenas leves dedos sobre os olhos
Somente a mão do anjo sobre o ombro.

Mário Faustino, O Homem e sua Hora e outros Poemas

Mario Faustino

Mário Faustino – Poema de amor

mario faustino

Quem como tu sem ser percebida
poderia passar entre as legiões dos anjos?

Se com eles cantasses nenhuma nota soaria em falso
e serias um deles em seus coros
a mim inacessíveis

Estás tão perto anjo desambientado!
Mas é tão frágil a tua presença
que é possível que eu fique de repente
outra vez sozinho
na noite desamparado

Mário Faustino, O Homem e sua Hora e outros poemas

Mario Faustino

Mário Faustino – Primeiro poema

mario faustino

Por que vos espantais se eu venho sobre as ondas?

Trago a paz e as distâncias vêm comigo
na boca tenho mundos e nos olhos palavras.
Ouvi-me.

Todas as coisas são palavras minhas:
a mais pura das nuvens
a mais pura que veio de longe e não se dissolveu
as colunas incolores além se levantando
quebradas luminosas líquidas colunas colunas
os cavalos que se empinam sobre a espuma
e o calmo silêncio povoando o mar.
Minhas palavras.
Antigas porém há pouco descobertas.
Lentas como o escurecer das nuvens refletidas
como o tremular tranqüilo da vaga adolescente.
Materiais límpidas palpáveis
frias e mornas coloridas de ondas e descendentes pássaros.
Resumidas numa única
impronunciável Palavra.

Mas eu não sou o Senhor
embora venham comigo a Música e o Poema.
Por que vos ajoelhais se eu vim por sobre as ondas
e só tenho palavras?
Ouvi a minha voz de anjo que acordou:

Sou Poeta.

Mário Faustino, O Homem e sua Hora e Outros Poemas

Mario Faustino

Mário Faustino – Romance

mario faustino

Para as Festas da Agonia
Vi-te chegar, como havia
Sonhado já que chegasses:
Vinha teu vulto tão belo
Em teu cavalo amarelo,
Anjo meu, que, se me amasses,
Em teu cavalo eu partira
Sem saudade, pena, ou ira;
Teu cavalo, que amarraras
Ao tronco de minha glória
E pastava-me a memória.
Feno de ouro, gramas raras.
Era tão cálido o peito
Angélico, onde meu leito
Me deixaste então fazer,
Que pude esquecer a cor
Dos olhos da Vida e a dor
Que o Sono vinha trazer.
Tão celeste foi a Festa,
Tão fino o Anjo, e a Besta
Onde montei tão serena,
Que posso, Damas, dizer-vos
E a vós, Senhores, tão servos
De outra Festa mais terrena —

Não morri de mala sorte,
Morri de amor pela Morte.

Mário Faustino, O Homem e sua Hora e outros poemas